“Agora, portanto – oráculo de Iahweh – retornai a mim de todo vosso coração, com jejum, com lágrimas e gritos de luto. Rasgai os vossos corações, e não as vossas roupas, retornai a Iahweh, vosso Deus, porque ele é bondoso e misericordioso, lento para a ira e cheio de amor, e se compadece da desgraça” (Jl 2,12-13).

Sempre é tempo de voltar para o Senhor. Apesar dos caminhos tortos, dos atalhos que tomamos há sempre a possibilidade de retomar o bom caminho, de escutar de novo: “Voltai-vos para mim e sereis salvo” (cf. Is 45,22). No início de nossa caminhada quaresmal, o nosso Pai amoroso nos diz: “Meu filho, dá-me o teu coração, e que teus olhos gostem dos meus caminhos” (Pv 23,26). De fato, para que aconteça uma verdadeira conversão, é preciso voltar-se para Deus com o coração e não simplesmente com palavras e promessas.

Trata-se de um tempo oportuno para faxinar, mas não uma faxina qualquer. Na medida em que se vai dando os passos quaresmais, vai-se realizando uma faxina do coração. Essa é a meta! Faxinar, jogar para fora do coração tudo aquilo que me prende a uma “vidinha” mesquinha, morta. A mudança de vida, o voltar-se totalmente para Deus, acontece nesse movimento de purificar o coração das impurezas acumuladas...

Assumir esse compromisso de uma faxina quaresmal, é de fato ouvir e praticar o apelo que o Senhor nos faz: “Rasgai os vossos corações, e não as vossas roupas” (Jl 2,13). O que o Senhor espera de nós não é uma fé e uma religião de aparência, de ritos estéreis que não transformam o nosso viver. Do que vai adiantar vivermos o tempo da quaresma somente com ritos externos, ficarmos “rasgando roupas”, se isso não nos levar a uma conversão interior?

Muitos ao iniciarem a quaresma, prometem várias mudanças, palavras e mais palavras, mas tudo não passa de falatório, de coisas da boca para fora. A respeito de pessoas assim, encontramos um forte oráculo no livro do Profeta Isaías: “Este povo se chega junto a mim com palavras e me glorifica com os lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Is 29,13). Analisando nossas ações do dia a dia, devemos nos perguntar: meu coração está longe ou perto de Deus?

O essencial para quem quer de fato buscar uma conversão é “rasgar o coração”. Mudanças verdadeiras. Propósitos de uma vida nova e melhor, que se inicia na quaresma e perdure por todo o sempre. É preciso rasgar o coração para colocar para fora tudo aquilo que está fazendo nossa vida apodrecer em uma situação de pecado, ou de discórdia. Do que vai adiantar uma pessoa com palavras doces, se “no seu coração está a guerra?” (Sl 55,22).

A quaresma não é tempo para ficarmos fazendo “ceninhas” ou realizando jejuns externos totalmente separados do coração. É tempo de se aproximar ainda mais da misericórdia de Deus rasgando o coração. A verdadeira mudança acontece de dentro para fora, só assim, terá resultado. Deus é bondoso e misericordioso, sempre disposto a nos indicar novamente um bom caminho. Nessa confiança, se volte para Deus, “rasgai o vosso coração” colocando para fora as “más intenções, assassínios, adultérios, prostituições, roubos, falsos testemunhos e difamações” (Mt 15,19).

Decida qual caminho fazer durante a quaresma: “rasgar o coração” ou simplesmente as vestes...

Pe. Vinícius I. Campos